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João Batista de Araújo da Cruz: Educador comprometido com o ensino e a política, promovendo análises imparciais e debates democráticos.

Brasil saudade por Dilma: Nostalgia ou amnésia dissociativa ?

A afirmação foi do presidente do BNDES, Aloizio Mercadante, de que o Brasil sente saudade de Dilma.
Foto: Agência BrasilEx-presidente do Brasil, Dilma Rousseff, e o presidente do BNDES, Aloizio Mercadante. (Fotos: Agência Brasil).
Ex-presidente do Brasil, Dilma Rousseff, e o presidente do BNDES, Aloizio Mercadante. (Fotos: Agência Brasil).

A afirmação do presidente do BNDES, Aloizio Mercadante, de que o Brasil sente saudade de Dilma Rousseff, feita durante o evento “States of the Future” no Rio de Janeiro, levanta um debate importante sobre a memória coletiva e a avaliação do legado da ex-presidente. A nostalgia evocada por Mercadante pode ser vista como uma tentativa de reavivar a imagem de Dilma, especialmente agora que ela está à frente do Novo Banco de Desenvolvimento dos BRICS. Contudo, é fundamental questionar se essa saudade é realmente compartilhada pela população brasileira ou se se trata de uma visão enviesada.

Mercadante exaltou a presença de Dilma, destacando sua nova missão importante no banco dos BRICS e a parceria com o BNDES. Porém, é crucial lembrar que a administração de Dilma Rousseff enfrentou sérios desafios econômicos e políticos que culminaram em seu impeachment em 2016. O período de seu governo foi marcado por uma profunda crise econômica, que teve impactos duradouros sobre a economia brasileira.

De acordo com um estudo conduzido pelo professor Reinaldo Gonçalves da UFRJ, Dilma Rousseff é responsável por aproximadamente 90% da “culpa” pelo terceiro pior PIB do Brasil em 127 anos. A análise aponta que o déficit de governança durante seu mandato foi um dos principais fatores para o fraco desempenho econômico. Durante os anos de 2011 a 2016, o Brasil enfrentou recessão, alta inflação, aumento do desemprego e uma série de problemas fiscais.

Os dados apresentados no estudo da UFRJ mostram que as políticas econômicas adotadas durante o governo de Dilma contribuíram significativamente para a crise. A falta de confiança no mercado, a política de controle de preços e subsídios insustentáveis, e o aumento da dívida pública são algumas das decisões criticadas pelos economistas. Portanto, afirmar que o Brasil sente saudade de Dilma pode ignorar o peso negativo de seu legado econômico.

A declaração de Mercadante pode ser interpretada como uma amnésia dissociativa, onde aspectos negativos são esquecidos ou minimizados, enquanto um retrato idealizado é promovido. É essencial que a população e os líderes políticos avaliem o passado com uma perspectiva equilibrada, reconhecendo tanto os sucessos quanto os fracassos. A saudade de um período ou de um líder deve ser fundamentada em uma análise crítica e completa dos impactos de suas políticas e ações.

O sentimento de saudade pode estar mais ligado à insatisfação com o presente e à busca por alternativas políticas do que a uma verdadeira nostalgia pelos tempos de Dilma Rousseff. O Brasil enfrenta desafios contínuos e complexos que requerem soluções inovadoras e eficazes, e é vital que essas soluções sejam baseadas em lições aprendidas do passado, em vez de uma idealização seletiva.

A afirmação de Mercadante abre espaço para uma discussão necessária sobre o legado de Dilma Rousseff e a necessidade de uma avaliação justa e crítica do passado recente. A saudade, se existente, deve ser questionada e analisada à luz de fatos e dados concretos, para que o Brasil possa seguir em frente com clareza e responsabilidade.

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